Jo 2.11 “Jesus principiou assim os seus sinais em Caná
da Galiléia e manifestou a sua glória, e os seus discípulos creram nele.”
Conjuntamente com este estudo, o leitor deve ler O VINHO
NOS TEMPOS DO NOVO TESTAMENTO (1).
O VINHO: MISTURADO OU INTEGRAL? Os dados históricos
sobre o preparo e uso do vinho pelos judeus e por outras nações no mundo
bíblico mostram que o vinho era: (a) freqüentemente não fermentado; e (b) em
geral misturado com água. O estudo anterior O VINHO NOS TEMPOS DO NOVO
TESTAMENTO, aborda um dos processos usados para manter o suco da uva fresco em
estado doce e sem fermentação. O presente estudo menciona dois outros processos
de preparação da uva para posteriormente ser misturada com água.
(1) Um dos métodos era desidratar as uvas, borrifá-las
com azeite para mantê-las úmidas e guardá-las em jarras de cerâmica (Enciclopédia
Bíblica Ilustrada de Zondervan, V. 882; ver também Columella, Sobre a
Agricultura 12.44.1-8). Em qualquer ocasião, podia-se fazer uma bebida muito
doce de uvas assim conservadas. Punha-se-lhes água e deixava-as de molho ou na
fervura. Políbio afirmou que as mulheres romanas podiam beber desse tipo de
refresco de uva, mas que eram proibidas de beber vinho fermentado (ver Políbio,
Fragmentos, 6.4; cf. Plínio, História Natural, 14.11.81).
(2) Outro método era ferver suco de uva fresco até se
tornar em pasta ou xarope grosso (mel de uvas); este processo deixava-o em
condições de ser armazenado, ficando isento de qualquer propriedade inebriante
por causa da alta concentração de açúcar, e conservava a sua doçura (ver
Columella, Sobre a Agricultura, 12.19.1-6; 20.1-8; Plínio, História Natural, 14.11.80).
Essa pasta ficava armazenada em jarras grandes ou odres. Podia ser usada como
geléia para passar no pão, ou dissolvida em água para voltar
ao estado de suco de uva (Enciclopédia Bíblica Ilustrada, de Zondervan, V. 882-884).
É provável que a uva fosse muito cultivada para produção de açúcar. O suco
extraído no lagar era engrossado pela fervura até tornar-se em líquido
conhecido como “mel de uvas” (Enciclopédia Geral Internacional da Bíblia, V. 3050).
Referências ao mel na Bíblia freqüentemente indicam o mel de uva (chamado debash
pelos judeus), em vez do mel de abelha.
(3) A água, portanto, pode ser adicionada a uvas
desidratadas, ao xarope de uvas e ao vinho fermentado. Autores gregos e romanos
citavam várias proporções de mistura adotadas. Homero (Odisséia, IX 208ss.) menciona
uma proporção de vinte partes de água para uma parte de vinho. Plutarco (Symposíacas,
III.ix) declara: “Chamamos vinho diluído, embora o maior componente seja a
água”. Plínio (História Natural, XIV.6.54) menciona uma proporção de oito
partes de água para uma de vinho.
(4) Entre os judeus dos tempos bíblicos, os costumes
sociais e religiosos não permitiam o uso de vinho puro, fermentado ou não. O
Talmude (uma obra judaica que trata das tradições do judaísmo entre 200 a .C. e 200 d.C.) fala, em
vários trechos, da mistura de água com vinho (e.g., Shabbath 77a; Pesahim 1086).
Certos rabinos insistiam que, se o vinho fermentado não fosse misturado com
três partes de água, não podia ser abençoado e contaminaria quem o bebesse. Outros
rabinos exigiam dez partes de água no vinho fermentado para poder ser consumido.
(5) Um texto interessante temos no livro de Ap ocalipse, quando um anjo, falando do “vinho da ira
de Deus”, declara que ele será “não misturado”, i.e., totalmente puro (Ap 14.10). Foi assim expresso porque os leitores da
época entendiam que as bebidas derivadas de uvas eram misturadas com água (ver
Jo 2.3 notas).
Em resumo, o tipo de vinho usado pelos judeus nos dias da
Bíblia não era idêntico ao de hoje. Tratava-se de (a) suco de uva recém-espremido;
(b) suco de uva assim conservado; (c) suco obtido de uva tipo passas; (d) vinho
de uva feito do seu xarope, misturado com água; e (e) vinho velho, fermentado
ou não, diluído em água, numa proporção de até 20 para 1. Se o vinho fermentado
fosse servido não diluído, isso era considerado indelicadeza, contaminação e
não podia ser abençoado pelos rabinos. À luz desses fatos, é ilícita a prática
corrente de ingestão de bebidas alcoólicas com base no uso do “vinho” pelos
judeus dos tempos bíblicos. Além disso, os cristãos dos dias bíblicos eram mais
cautelosos do que os judeus quanto ao uso do vinho (ver Rm 14.21 nota; 1Ts 5.6 nota;
1Tm 3.3 nota; Tt 2.2 nota).
A GLÓRIA DE JESUS MANIFESTA ATRAVÉS DO VINHO. Em Jo 2,
vemos que Jesus transformou água em “vinho” nas bodas de Caná. Que tipo de
vinho era esse? Conforme já vimos, podia ser fermentado ou não, concentrado ou
diluído. A resposta deve ser determinada pelos fatos contextuais e pela probabilidade
moral. A posição desta Bíblia de Estudo é que Jesus fez vinho (oinos) suco de
uva integral e sem fermentação. Os dados que se seguem apresentam fortes razões
para rejeição da opinião de que Jesus fez vinho embriagante.
(1) O objetivo primordial desse milagre foi
manifestar a sua glória (2.11), de modo a despertar fé pessoal e a confiança em
Jesus como o Filho de Deus, santo e justo, que veio salvar o seu povo do pecado
(2.11; cf. Mt 1.21). Sugerir que Cris to
manifestou a sua divindade como o Filho Unigênito do Pai (1.14), mediante a
criação milagrosa de inúmeros litros de vinho embriagante para uma festa de
bebedeiras (2.10 nota; onde subentende-se que os convidados já tinham bebido
muito), e que tal milagre era extremamente importante para sua missão
messiânica, requer um grau de desrespeito, e poucos se atreviriam a tanto. Será,
porém, um testemunho da honra de Deus, e da honra e glória de Cris to, crer que Ele criou sobrenaturalmente o mesmo
suco de uva que Deus produz anualmente através da ordem natural criada (ver 2.3
nota). Portanto, esse milagre destaca a soberania de Deus no mundo natural, tornando-se
um símbolo de Cris to para
transformar espiritualmente pecadores em filhos de Deus (3.1-15). Devido a esse
milagre, vemos a glória de Cris to “como
a glória do Unigênito do Pai” (1.14; cf. 2.11).
(2) Contraria a revelação bíblica quanto a perfeita
obediência de Cris to a seu Pai
celestial (cf. 4.34; Fp 2.8,9) supor que Ele desobedeceu ao mandamento moral do
Pai: “Não olhes para o vinho, quando se mostra vermelho... e se escoa
suavemente”, i.e., quando é fermentado (Pv 23.31). Cris to
por certo sancionou os textos bíblicos que condenam o vinho embriagante como
escarnecedor e alvoroçador (Pv 20.1), bem como as palavras de Hc 2.15: “Ai daquele
que dá de beber ao seu companheiro!... e o embebedas” (cf. Lv 10.8-11; Pv 31.4-7;
Is 28.7; Rm 14.21).
(3) Note, ainda, o seguinte testemunho da medicina
moderna. (a) Os maiores médicos especialistas atuais em defeitos congênitos
citam evidências comprovadas de que o consumo moderado de álcool danifica o
sistema reprodutivo das mulheres jovens, provocando abortos e nascimentos de
bebês com defeitos mentais e físicos incuráveis. Autoridades mundialmente
conhecidas em embriologia precoce afirmam que as mulheres que bebem até mesmo quantidades
moderadas de álcool, próximo ao tempo da concepção (c. 48 horas), podem lesar
os cromossomos de um óvulo em fase de liberação, e daí causar sérios distúrbios
no desenvolvimento mental e físico do nenê. (b) Seria teologicamente absurdo
afirmar que Jesus haja servido bebidas alcoólicas, contribuindo para o seu uso.
Afirmar que Ele não sabia dos terríveis efeitos em potencial que as bebidas
inebriantes têm sobre os nascituros é questionar sua divindade, sabedoria e
discernimento entre o bem e o mal. Afirmar que Ele sabia dos danos em potencial
e dos resultados deformadores do álcool, e que, mesmo assim, promoveu e
fomentou seu uso, é lançar dúvidas sobre a sua bondade, compaixão e seu amor.
A única conclusão racional, bíblica e teológica acertada é
que o vinho que Cris to fez nas bodas,
a fim de manifestar a sua glória, foi o suco puro e doce de uva, e não
fermentado.
Fonte: Bíblia de Estudos Pentecostal
Nenhum comentário:
Postar um comentário