Este artigo, necessariamente, não
reflete o pensamento da CBN.
Este texto é fruto de uma
promessa que fiz a minha pequena comunidade cristã, depois de apresentar
rapidamente algumas diferenças entre desigrejado e descristianizado. No meu
entendimento ambos são uma anomalia da cristandade. Acredito ser necessário que
apologetas e pesquisadores na área da religião comecem a pensar que na verdade
existem dois fenómenos afluindo do cristianismo pósmoderno, ou quem sabe até
mais do que apenas estes dois, mas nos limitaremos a uma breve análise sobre
estes dois fenómenos.
Um aspecto interessante a
ressaltar é a pósmodernidade em si. É impossível encontrar uma definição que
seja suficientemente aplicável sobre a pósmodernidade em um âmbito global, ou
seja, o que é pósmodernidade num país pode não ser noutro. Isto porque os elementos
que influenciam os aspectos da pósmodernidade são dependentes de pressupostos
que se diferenciam de país para país, cultura para cultura e de história para
história. É comum encontrarmos filósofos que observam os fatos como estou
apresentando aqui e outros que são bastante céticos quanto a pósmodernidade em
determinados países, atribuindo às mudanças ali identificadas como apenas um
prenúncio de algo que ainda levará anos para se estabelecer como um aspecto
pósmoderno de fato. Minha posição é mais ou menos esta, "do já e ainda
não". Concordo com a impossibilidade de uma pósmodernidade global, ou seja
o que o europeu, os norte-americanos e os latinos-americanos entendem sobre a
pósmodernidade e seus efeitos na sociedade é absolutamente diferente um do
outro. Há filósofos europeus que não concordam que os norte-americanos já
estejam vivendo na pósmodernidade, e muito menos ainda os latinos-americanos.
Minha perspectiva é que embora
sejamos obrigados a concordar com as diferenças culturais, históricas e até
econômicas, há sim vestígios da pósmodernidade em quase todo o mundo ocidental,
porém em diferentes graus de influência e diferentes aspectos.
Uma definição básica do
pósmodernismo, e que talvez sirva-nos a todos até certo ponto seria "uma
tentativa de fazer sentido naquilo que está acontecendo agora." Acredito
que não seria esta a resposta que você esperava, mas sim um "bicho com
sete cabeças". É aqui que encontramos nossos diferenciais geográficos e
culturais, pois cada um deseja fazer sentido dentro da sua própria cultura e
não na cultura do outro e portanto isto envolve aspectos bastante particulares
de país para país e de cultura para cultura. A tentativa de fazer sentido
naquilo que está acontecendo agora em Paris é diferente de fazer o mesmo sentido
em São Paulo ou Nova Iorque. Isto porque cada cultura tem seus aspectos
cognitivos bastante diferenciados.
O pósmodernismo é também um
fenómeno que se apoia em diferentes elementos de respostas de uma cultura
diante daquilo que se desenvolve no âmbito histórico de cada povo. A
dificuldade em definir o pósmodernismo, ao meu ver, não é a sua multiplicidade,
mas a sua constante mutação. O pósmodernismo não é um bicho de sete cabeças,
mas é uma centopeia que caminha veloz sobre as folhas das verduras em uma horta
devorando aquilo que está pela frente, deixando um rastro vazio por onde ela
passa.
Um elemento comum da
pósmodernidade é o niilismo, e alguns acreditam que o niilismo seja a sua marca
fundamental. Concordo com esta teoria, mas o que é o niilismo? É a
desvalorização e a morte do sentido, a ausência de finalidade e de resposta ao
"porquê". Os valores tradicionais depreciam-se e os princípios e
critérios absolutos dissolvem-se. Tudo é sacudido, posto radicalmente em
discussão. A superfície, antes congelada, das verdades e dos valores
tradicionais está despedaçada e torna-se difícil prosseguir no caminho, avistar
um ancoradouro. Em outras palavras, o niilismo é uma espécie de "cada um
por si e Deus por todos." É também a super valorização do pensamento e
vontade individual, estabelecendo uma cultura sem rumo, sem norte, sem
definição e antagônica.
Depois desta breve introdução
podemos voltar a questão superior desta análise desigrejado ou
descristianizado? Não há aqui uma questão semântica, pois tratam-se de
comportamentos diferentes. Tentarei ser o mais claro e resumido possível nesta
avaliação destes dois comportamentos que são também marcas da pósmodernidade. O
desigrejado é aquele que por motivos de adaptação litúrgico-teológica não
conseguem encontrarem-se neste emaranhado de igrejas com suas esquisitices,
contudo são crentes e sinceramente buscam um ambiente cristão e saudável para
pertencer, mas lhes é uma tarefa fácil, devido às suas frustrações anteriores.
O desigrejado busca a Deus, lê e obedece às Escrituras e procura com
sinceridade um aprisco onde possa finalmente descansar com segurança.
Já o descristianizado é aquele
que por motivo teológico-doutrinário afastaram-se do meio cristão, movidos por
intenções equivocadas, não mantém comunhão com outros crentes, a não ser para
reclamar, não buscam a Deus, não lêem as Escrituras, vivem de forma leviana e
contrária ao evangelho. Este tipo de pessoa é aquela que até já pode ter sido
"cristão", mas já não reúnem mais as condições de serem chamados de
cristãos, pois abandonaram os elementos da fé e da disciplina espiritual. Assim
como temos culturas descristianizadas, também temos pessoas nas mesmas
condições.
Não é uma tarefa fácil distinguir
entre os dois, viso que mesmo em graus diferentes, ambos apresentam sinais do
niilismo em sua fé e conduta. Acredito que o número de descristianizado seja
superior ao número de desigrejado. O desigrejado nunca poderá ser um estado
permanente de uma pessoa, pois contraria ao princípio bíblico, mas ele é
tolerável por algum tempo, já o de descristianizado não nutre qualquer
interesse em voltar a comunhão e a submeter-se ao Senhorio de Cristo que se
manifesta através da igreja. O descristianizado é um pecador perdido, enquanto
que o desigrejado é um pecador salvo.
Autor: Pr. Luis Alexandre Ribeiro
Branco (Missionário da JAMI em Portugal)
Fonte: www.cbn.org.br (Convenção
Batista Nacional)
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