quinta-feira, 19 de maio de 2016

Sintomas da pósmodernidade: Desigrejado ou descristianizado?



Este artigo, necessariamente, não reflete o pensamento da CBN.

Este texto é fruto de uma promessa que fiz a minha pequena comunidade cristã, depois de apresentar rapidamente algumas diferenças entre desigrejado e descristianizado. No meu entendimento ambos são uma anomalia da cristandade. Acredito ser necessário que apologetas e pesquisadores na área da religião comecem a pensar que na verdade existem dois fenómenos afluindo do cristianismo pósmoderno, ou quem sabe até mais do que apenas estes dois, mas nos limitaremos a uma breve análise sobre estes dois fenómenos.


Um aspecto interessante a ressaltar é a pósmodernidade em si. É impossível encontrar uma definição que seja suficientemente aplicável sobre a pósmodernidade em um âmbito global, ou seja, o que é pósmodernidade num país pode não ser noutro. Isto porque os elementos que influenciam os aspectos da pósmodernidade são dependentes de pressupostos que se diferenciam de país para país, cultura para cultura e de história para história. É comum encontrarmos filósofos que observam os fatos como estou apresentando aqui e outros que são bastante céticos quanto a pósmodernidade em determinados países, atribuindo às mudanças ali identificadas como apenas um prenúncio de algo que ainda levará anos para se estabelecer como um aspecto pósmoderno de fato. Minha posição é mais ou menos esta, "do já e ainda não". Concordo com a impossibilidade de uma pósmodernidade global, ou seja o que o europeu, os norte-americanos e os latinos-americanos entendem sobre a pósmodernidade e seus efeitos na sociedade é absolutamente diferente um do outro. Há filósofos europeus que não concordam que os norte-americanos já estejam vivendo na pósmodernidade, e muito menos ainda os latinos-americanos.

Minha perspectiva é que embora sejamos obrigados a concordar com as diferenças culturais, históricas e até econômicas, há sim vestígios da pósmodernidade em quase todo o mundo ocidental, porém em diferentes graus de influência e diferentes aspectos.

Uma definição básica do pósmodernismo, e que talvez sirva-nos a todos até certo ponto seria "uma tentativa de fazer sentido naquilo que está acontecendo agora." Acredito que não seria esta a resposta que você esperava, mas sim um "bicho com sete cabeças". É aqui que encontramos nossos diferenciais geográficos e culturais, pois cada um deseja fazer sentido dentro da sua própria cultura e não na cultura do outro e portanto isto envolve aspectos bastante particulares de país para país e de cultura para cultura. A tentativa de fazer sentido naquilo que está acontecendo agora em Paris é diferente de fazer o mesmo sentido em São Paulo ou Nova Iorque. Isto porque cada cultura tem seus aspectos cognitivos bastante diferenciados.

O pósmodernismo é também um fenómeno que se apoia em diferentes elementos de respostas de uma cultura diante daquilo que se desenvolve no âmbito histórico de cada povo. A dificuldade em definir o pósmodernismo, ao meu ver, não é a sua multiplicidade, mas a sua constante mutação. O pósmodernismo não é um bicho de sete cabeças, mas é uma centopeia que caminha veloz sobre as folhas das verduras em uma horta devorando aquilo que está pela frente, deixando um rastro vazio por onde ela passa.

Um elemento comum da pósmodernidade é o niilismo, e alguns acreditam que o niilismo seja a sua marca fundamental. Concordo com esta teoria, mas o que é o niilismo? É a desvalorização e a morte do sentido, a ausência de finalidade e de resposta ao "porquê". Os valores tradicionais depreciam-se e os princípios e critérios absolutos dissolvem-se. Tudo é sacudido, posto radicalmente em discussão. A superfície, antes congelada, das verdades e dos valores tradicionais está despedaçada e torna-se difícil prosseguir no caminho, avistar um ancoradouro. Em outras palavras, o niilismo é uma espécie de "cada um por si e Deus por todos." É também a super valorização do pensamento e vontade individual, estabelecendo uma cultura sem rumo, sem norte, sem definição e antagônica.

Depois desta breve introdução podemos voltar a questão superior desta análise desigrejado ou descristianizado? Não há aqui uma questão semântica, pois tratam-se de comportamentos diferentes. Tentarei ser o mais claro e resumido possível nesta avaliação destes dois comportamentos que são também marcas da pósmodernidade. O desigrejado é aquele que por motivos de adaptação litúrgico-teológica não conseguem encontrarem-se neste emaranhado de igrejas com suas esquisitices, contudo são crentes e sinceramente buscam um ambiente cristão e saudável para pertencer, mas lhes é uma tarefa fácil, devido às suas frustrações anteriores. O desigrejado busca a Deus, lê e obedece às Escrituras e procura com sinceridade um aprisco onde possa finalmente descansar com segurança.

Já o descristianizado é aquele que por motivo teológico-doutrinário afastaram-se do meio cristão, movidos por intenções equivocadas, não mantém comunhão com outros crentes, a não ser para reclamar, não buscam a Deus, não lêem as Escrituras, vivem de forma leviana e contrária ao evangelho. Este tipo de pessoa é aquela que até já pode ter sido "cristão", mas já não reúnem mais as condições de serem chamados de cristãos, pois abandonaram os elementos da fé e da disciplina espiritual. Assim como temos culturas descristianizadas, também temos pessoas nas mesmas condições.

Não é uma tarefa fácil distinguir entre os dois, viso que mesmo em graus diferentes, ambos apresentam sinais do niilismo em sua fé e conduta. Acredito que o número de descristianizado seja superior ao número de desigrejado. O desigrejado nunca poderá ser um estado permanente de uma pessoa, pois contraria ao princípio bíblico, mas ele é tolerável por algum tempo, já o de descristianizado não nutre qualquer interesse em voltar a comunhão e a submeter-se ao Senhorio de Cristo que se manifesta através da igreja. O descristianizado é um pecador perdido, enquanto que o desigrejado é um pecador salvo.


Autor: Pr. Luis Alexandre Ribeiro Branco (Missionário da JAMI em Portugal)

Fonte: www.cbn.org.br (Convenção Batista Nacional)

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