De Gênesis a Apocalipse, as Escrituras são claras em dizer
que a conversão é absolutamente necessária para indivíduos experimentarem a
salvação e conhecerem a Deus. A menos que nos voltemos do pecado e nos voltemos
para Deus, a menos que saibamos experiencialmente o que a Bíblia descreve como
uma circuncisão espiritual e sobrenatural do coração (Deuteronômio 30.6;
Romanos 2.25-29), não conheceremos a Deus de modo salvífico e iremos permanecer
sob seu julgamento e ira (Efésios 2.1-3).
A necessidade da conversão é ensinada
através das Escrituras. Pode não ser o tema central das Escrituras, mas é
certamente fundacional à completa história de redenção, especialmente em termos
de como a redenção é aplicada ao povo de Deus. À parte da conversão, não
podemos conhecer a Deus de forma salvífica. Não podemos experimentar o perdão
dos pecados. Não podemos entrar no reino de Deus e no seu reinado salvífico.
Mas, ainda pode ser perguntado: Por que a conversão é
necessária?
Entendimento popular x entendimento bíblico
Antes de respondermos essa questão, vale a pena esclarecer
que não estamos falando sobre “conversão” no senso popular da palavra, mas no
sentido bíblico. Qual a diferença?
Se você fizer uma pesquisa sobre o tema “conversão
espiritual”, os resultados predominantes serão algo do tipo: conversão é a
“adoção de uma nova religião” ou a “internalização de um novo sistema de
crenças”. Essas definições enxergam “conversão” como uma mudança no pensamento
de alguém ou de sua perspectiva que, na maioria das vezes, deixa a pessoa
fundamentalmente a mesma. Isso é uma conversão não-cristã.
Em vez disso, a conversão cristã depende da obra soberana e
sobrenatural do Deus triuno na vida das pessoas. Na conversão, Deus traz
pessoas da morte espiritual para vida. Isso capacita-os a abominar o que uma
vez amaram – seu pecado e rebelião contra Deus – e a se voltarem para Cristo e
confiarem nele.
Três verdades que embasam a necessidade da conversão
Por que esse entendimento da conversão é absolutamente
necessário? Três verdades fundacionais sublinham o ensino bíblico sobre
conversão e nos ajudam a ver porque a conversão é tão importante nas
Escrituras, na teologia e na proclamação do evangelho.
Permitam-me também destacar que essas três verdades são
completamente inter-relacionadas. Uma pessoa não pode entender corretamente o
que a Bíblia ensina sobre conversão à parte de apreender corretamente essas
outras verdades, que é simplesmente um lembrete que nossas crenças teológicas
são mutuamente dependentes uma da outra. Ter uma área da nossa teologia
depreciada afetará grandemente as outras e isso é certamente verdadeiro em
nosso entendimento sobre conversão.
O problema humano
A primeira verdade fundacional que firma e faz sentido ao
ensino bíblico sobre conversão é a visão bíblica do problema humano. Mesmo que
os seres humanos sejam criados como portadores da imagem de Deus e assim
possuam incrível valor e significado, nós nos rebelamos em Adão contra nosso
Criador e assim nos tornamos pecadores que estão sujeitos à ira de Deus
(Gênesis 3; Romanos 5:12-21).
Quando a Bíblia fala de pecado e de humanos como pecadores,
não vê isso como um problema secundário. Não é algo que pode ser remediado por
autoajuda, mais educação ou mesmo resoluções pessoais de se tornar uma pessoa
melhor. Tais soluções perenemente presentes subestimam muito a natureza do
problema humano que as Escrituras descrevem poderosa e graficamente.
Visto biblicamente, o pecado não é somente um problema
universal que nenhuma pessoa pode escapar devido nossa solidariedade em Adão
como nosso representante do pacto (Romanos 3.9-12, 23; 5.12-21; 1Coríntios
15.22). Em Adão e por nossas próprias escolhas, tornamo-nos rebeldes morais contra
Deus, nascidos nesse mundo de criaturas caídas. Essa é uma condição que não
podemos mudar por nossa própria iniciativa e ação. E é uma condição que,
tristemente, não queremos mudar, à parte da graça soberana de Deus. Em nossa
situação de queda, nós não somente nos deleitamos em nosso pecado e de bom
grado permanecemos em oposição ao justo reinado de Deus sobre nós, mas essa
mesma disposição é evidência que estamos inaptos de nos salvar e nos mudarmos
(Romanos 8.7). Como resultado, permanecemos sob o julgamento e ira de Deus
(Romanos 8.1; Efésios 2.1-3) quer tomemos conhecimento ou não. Em nosso pecado,
nosso estado diante do juiz do universo é de condenação e culpa (Ezequiel
18.20; Romanos 5.12, 15-19; 8.1). As Escrituras descrevem esse estado como morte,
tanto em nível espiritual como, em última instância, físico (Gênesis 2.16-17;
Efésios 2.1; Romanos 6.23).
Salvação, a remediação bíblica para esse problema, reverte
essa situação terrível. E o ponto decisivo nessa reviravolta é a conversão.
O que precisamos é primeiramente de um salvador que possa
pagar por nosso pecado diante de Deus, satisfazer os justos requerimentos de
Deus e o julgamento dele contra nós. Nosso Senhor Jesus Cristo, o Deus-Filho
encarnado, faz justamente isso por nós em sua obra da cruz. Ele satisfaz as
demandas do próprio Deus: nosso pecado é pago totalmente (Romanos 3.21-26;
Gálatas 3.13-14; Colossenses 2.13-15; Hebreus 2.5-18).
Em adição, não precisamos apenas que nosso pecado seja pago,
precisamos também ser trazidos da morte espiritual para vida, que resulta numa
transformação de nossa natureza por inteiro (Romanos 6.1-23; Efésios 1.18-23;
2.4-10). Precisamos que o Deus triuno nos chame da morte para vida e, pela
agência do Espírito de Deus, dê-nos o novo nascimento (Efésios 1.3-14; João
3.1-8 [1] ). Precisamos de uma ressurreição dos mortos paralela a ressurreição
do nosso representante da aliança para que sejamos capacitados a nos voltar do
pecado de bom grado, para pôr de lado nossa oposição a Deus e seu reinado, como
também para responder em arrependimento e fé ao evangelho (João 3.5; 6.44; 1
Coríntios 2.14).
Resumindo, conversão é necessária porque é parte da solução
à séria natureza do problema humano tal qual é descrito pelas Escrituras.
A doutrina de Deus
A segunda verdade fundacional que firma e faz sentido ao
ensino bíblico sobre a necessidade de conversão é o ensino bíblico acerca da
natureza e caráter de Deus.
Como dito acima, essas duas verdades se explicam mutuamente.
O problema humano é o que é por causa do que o Deus da Bíblia é. Nosso problema
pode somente ser visto em suas cores verdadeiras à luz do caráter pessoal,
justo e santo próprio de Deus.
Conversão é necessária porque como pecadores e criaturas
rebeldes não podemos habitar na santa presença de Deus. O pecado não somente
transgride o caráter de Deus, que é a lei moral do universo, mas ele também nos
separa da presença pactual de Deus (Gênesis 3.21-24; Efésios 2.11-18; Hebreus
9). Nós, que fomos criados para conhecer a Deus e viver diante dele como
vice-regentes, governando como pequenos reis e rainhas sobre a criação para
glória de Deus, agora permanecemos sob a ira e condenação de Deus.
Portanto, sem o caráter santo de Deus sendo satisfeito na
sua própria provisão sacrificial dele mesmo em seu Filho, não podemos conhecer
a Deus salvificamente (Romanos 6; Efésios 4.20-24; Colossenses 3.1-14). Além
disso, não é suficiente uma transação legal acontecer, importante como essa é
no veredito de nossa justificação diante de Deus. Salvação também envolve a
remoção interna do pecado e a transformação de nossa inteira natureza caída.
Isso começa quando somos unidos a Cristo pela obra de regeneração do Espírito,
que nos capacita de bom grado a nos voltarmos do pecado e descansarmos na obra
consumada de Cristo nosso Senhor.
Em outras palavras, conversão é absolutamente necessária
porque Deus demanda que suas criaturas sejam santas como ele é santo. Portanto,
para que habitemos diante dele, devemos ser vestidos com a justiça de Cristo,
transformados pelo poder do Espírito e feitos novas criações em Cristo Jesus
(2Coríntios 5.17-21). Não há forma de portadores da imagem de Deus serem
trazidos de volta ao proposito da sua criação e desfrutarem de todos os
benefícios da nova criação sem terem seus pecados pagos completamente, sem
serem nascidos novamente pelo Espírito e sem estarem unidos a Cristo pela fé.
Se falharmos em compreender alguma coisa da resplandecente
santidade de Deus, sua perfeita justiça e sua exigência que suas criaturas ajam
como filhos obedientes e portadores da sua imagem, nunca iremos compreender
porque conversão é tão importante nas Escrituras.
Em adição, se não compreenderemos que nossa conversão
somente acontece devido a iniciativa soberana do Deus triuno da graça, então
nunca apreciaremos a profundidade e a largura do amor de Deus por nós, seu
povo.
Conversão envolve arrependimento e fé – nosso eu holístico
se voltando para Deus
A terceira verdade fundacional que nos ajuda a entender o
ensino bíblico sobre conversão é que ela afeta a pessoa inteira e afeta a
pessoa como um todo. Isto é, nas Escrituras, conversão envolve tanto se voltar
do pecado (arrependimento) e se voltar para Deus (fé). Ambos são necessários
para conversão, e assim arrependimento e fé são vistos corretamente como dois lados
da mesma moeda.
Em outras palavras, conversão bíblica nunca é meramente uma
mudança de perspectiva intelectual que não resulta em uma mudança na vida do
indivíduo. Infelizmente, em muitas de nossas igrejas, encontramos pessoas que
professam ter sido convertidas, mas que exibem meramente um assentimento
intelectual do evangelho à parte de qualquer evidência de mudança real em suas
vidas.
As Escrituras claramente consideram esse tipo de mero
assentimento mental como falsa conversão (Mateus 7.1-23). Deus exige que a
pessoa por inteiro lhe responda como suas criaturas do pacto: nosso pecado é
uma rebelião da pessoa por inteiro contra Deus, e a salvação cristã é uma
transformação da pessoa por inteiro, literalmente uma nova criação. Conversão
envolve se voltar do pecado e se voltar para Deus. O que envolve a pessoa
inteira – seu intelecto, vontade e emoções (Atos 2.37-38; 2 Coríntios 7.10;
Hebreus 6.1).
Não é suficiente tirar nosso chapéu para Jesus
Conversão não é opcional. É absolutamente necessária. Não
podemos entender salvação e o evangelho à parte de uma visão robusta dela.
O cristianismo nominal, que se prolifera rapidamente em
nossas igrejas, não é o cristianismo bíblico. Não é suficiente tirar nosso
chapéu para Jesus. Devemos experimentar a obra graciosa e soberana de Deus em
nossas vidas, dando-nos nova vida e nos habilitando, por meio da obra do
Espírito de Deus, a nos arrependermos e cremos no evangelho.
Nossos entendimentos defeituosos da conversão são geralmente
por causa da nossa teologia defeituosa. O remédio para essa situação é retornar
às Escrituras de joelhos, pedindo que nosso grande Deus possa reviver novamente
sua igreja para que na proclamação do evangelho, homens e mulheres, garotos e
garotas, possam se arrepender dos seus pecados e crerem em Cristo Jesus nosso
Senhor.
Autor: Stephen J. Wellum
Fonte: www.ministeriofiel.com.br
[1]Fiquei em dúvida
se houve erro de digitação no artigo original. Essa citação é de Jonas mesmo,
ou seria João e eles erraram na hora de digitar?
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